Melhores poemas João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo NetoA poesia de João Cabral, como sugere o próprio poeta, divide-se em duas águas. Na primeira linha predomina a pesquisa da criação poética, o rigor formal, o repúdio a qualquer nota sentimental ou interferência do irracional, que se desenvolve a partir de O Engenheiro (1945), até A Escola das Facas (1980), incluindo Uma Faca só Lâmina (1955) e Museu de Tudo (1975). A outra grande vertente é a crítica social, ácida, mas sem qualquer nota panfletária ou demagógica, na qual persistem todas as constantes da primeira linha, mas com uma contundência de faca, uma faca só lâmina. O processo, iniciado com O Cão Sem Plumas (1950), se acentua em O Rio (1954) e Morte e Vida Severina (1955), reaparece em Dois Parlamentos (1960) e Agrestes (1984), e como que se depura no Auto do Frade (1984). Convém ainda salientar a presença obsessiva da Espanha, ao longo de toda a sua obra, desde Paisagens com Figuras (1955), Quaderna (1959), Serial (1961) até Crime na Calle Relator (1987) e Sevilha Andando (1990).